MANTEMOS O EQUILIBRIO E A SERENIDADE IGNORANDO OS FATOS QUE NÃO TEM HAVER COM NOSSO INTERIOR
O GRANDE E O PEQUENO, SÓ EXISTEM QUANDO VISTOS POR UMA CONSCIÊNCIA LIMITADA
Helena P. Blavatsky
BUDA
E O TAPA NA CARA
"Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos.
Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto. Buda esfregou o local e perguntou ao homem: – E agora? O que vai querer dizer?
O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: “E agora?”
Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse: – Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.
– Fique quieto – interveio Buda – Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma idéia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa idéia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender?
Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela...
Eu entendo esse homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: “E agora?”
O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos: – Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem. Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir.
Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou: – E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem.
Voltando-se para os discípulos, Buda falou: – Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.
O homem olhou para Buda e disse: – Perdoe-me pelo que fiz ontem. – Perdoar? – exclamou Buda. – Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo.
Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você. E você também é outro, continuou Buda. Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem?
Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar."